O que nos reserva a segunda metade de 2025?

Mário Pires | Schroders

Head of Portugal
Neste cargo, Mário Pires é responsável por assegurar os interesses e as necessidades dos clientes intermediários e institucionais em Portugal, bem como pelo crescimento do negócio na região.

Junho de 2025 por Mario Pires

Os últimos meses têm sido férteis em decisões e recuos insólitos nas políticas comerciais norte-americanas, com mudanças que aumentam a incerteza das famílias e empresas. Os investidores não são exceção e muitos reagem a quente a estes anúncios. Levados pelo sentimento, contribuem para fortes movimentos nos mercados, que se sucedem ao ritmo das decisões e recuos.

Só uma bola de cristal nos ajudaria a adivinhar o que nos reserva a segunda metade do ano, mas a imprevisibilidade que está a marcar a atualidade deve manter-se e vários dos seus impactos são globais. 

Importa, contudo, compreender, que as quedas provocadas nos mercados foram já, em grande parte, recuperadas. Os dados históricos confirmam que costuma ser assim: que acontecimentos disruptivos como o anúncio das tarifas, o 11 de setembro ou a invasão da Ucrânia causam quedas acentuadas, mas curtas, e não implicam a reformulação integral de estratégias de investimento de longo prazo, sustentadas nos fatores que realmente importam – nos fundamentais.

De resto, os receios criados por questões políticas ou geopolíticas podem ser menos relevantes para o investimento do que sugere o seu primeiro impacto e não anulam as oportunidades neste segundo semestre de 2025.

Seis regras para navegar por entre a incerteza

  1. Calma: não ceder a movimentos de venda impulsivos e indiscriminados, que levam a perdas, e potenciar os momentos de queda para identificar ativos de empresas que ficam injustamente subvalorizadas por estas disrupções. Por exemplo, quedas superiores a 10% nos mercados acionistas são comuns na maioria dos anos, e apesar da volatilidade, o mercado europeu está a registar o melhor início de ano em mais de meio século, comparativamente aos EUA.
  2. Visão de longo prazo: os dados históricos confirmam que a persistência compensa, nomeadamente nos mercados acionistas, que têm superado outras classes de ativos no longo prazo, apesar de terem flutuações mais pronunciadas no curto. Em paralelo, importa manter posições em setores que, apesar estarem a ser penalizados pelo contexto, têm potencial estrutural de crescimento.
  3. Análise ativa e seletiva: as oportunidades continuam a existir em diferentes regiões, setores e empresas. A análise proativa e seletiva é essencial para identificar geografias, áreas e organizações menos penalizadas pelas potenciais tarifas, como as que atuam em áreas mais defensivas (bens e serviços essenciais, por exemplo) e respondem às grandes tendências estruturais da desglobalização (proximidade da produção ao abastecimento), demografia (saúde e tecnologias, face ao envelhecimento da população e à redução da população ativa) e descarbonização (transição energética).
  4. Foco na qualidade e resiliência: identificar empresas com fundamentais sólidos, que mantêm planos de longo prazo, cadeias de distribuição diversificadas, gestão eficiente e posições competitivas fortes é determinante para obter melhores retornos ajustados ao risco. Os dados históricos demonstram que, mais do que as políticas globais e locais, são os fundamentais das empresas – e a sua capacidade de gerar valor - os principais motores de retorno.
  5. Diversificação global: A regra de “não colocar os ovos todos no mesmo cesto” aconselha a uma carteira diversificada para mitigar riscos e potenciar oportunidades em setores, geografias e classes de ativos com menos correlação entre si. A diversificação de ativos deve incluir a análise de todas as classes disponíveis - desde ações a obrigações governamentais e empresariais, incluindo dívida high yield e crédito com investment grade, passando por commodities (o ouro é um refúgio em tempos incertos, por exemplo), divisas e ativos privados.
  6. Gestão ativa: monitorizando continuamente os indicadores económicos e monetários, assim como o comportamento dos mercados e empresas, e acompanhando as grandes tendências estruturais, para efetuar ajustes estratégicos que ajudam a obter a melhor relação risco-retorno.

Nem sempre é fácil para um investidor conciliar todas as estas regras, mas é isto que fazem os especialistas de gestoras de ativos, como a Schroders. Apoiados por equipas e ferramentas de análise, tem a informação e a flexibilidade para explorar proativamente as oportunidades (e mitigar os riscos) que resultam da reconfiguração do comércio global ou de outras disrupções que possam surgir nesta segunda metade do ano.