Para que servem as ações?
Ana Carrisso | Fidelity
Licenciada em Comércio e Administração de Empresas pela LCCI, Ana Carrisso integrou a equipa da Fidelity International Iberia em 1998, onde desenvolveu toda a sua carreira no setor da gestão de ativos.
Junho de 2025 por Ana Carrisso
Quase todos os dias ouvimos falar da bolsa: quanto valem as ações, se caíram ou subiram em função da atualidade. No entanto, uma coisa é o que nos é familiar e outra é perceber como funciona o mercado de capitais. Isto reflete-se, por exemplo, no 5.º Inquérito online à população universitária sobre investimento realizado pela CMVM em 2024: apesar de 38,5% dos inquiridos afirmar que se consideram conhecedores ou muito conhecedores de questões relacionadas com os mercados e produtos financeiros (67,4% afirma que o seu conhecimento é superior ou muito superior à média da população portuguesa), 48,6% dos inquiridos afirma nunca ter operado com ações, obrigações e fundos de investimento através de ferramentas digitais.
Este contraste de dados sugere que, embora exista um certo nível de auto-perceção positiva sobre o conhecimento dos mercados financeiros entre os investidores portugueses, cerca de metade da população não participa ativamente em transações no mercado de ações, o que pode refletir uma falta de compreensão prática do funcionamento das bolsas e dos valores mobiliários. Assim, poderá ser pertinente utilizar este espaço mediático para explicar sucintamente o que é uma ação e como funciona.
Como atuam as bolsas?
Em termos muito simples, as bolsas atuam como uma fonte de financiamento para as empresas, em alternativa à banca. Ao tornarem-se sociedades cotadas, as empresas são obrigadas a cumprir uma série de requisitos em matéria de informação e transparência, incluindo a apresentação regular de demonstrações financeiras e auditorias obrigatórias.
Uma ação é uma fração do valor dessa empresa na bolsa, e a sua cotação é o que os investidores estão dispostos a pagar pela ação com base num conjunto de variáveis, que vão desde o estado do seu balanço até à influência dos acontecimentos macroeconómicos e geopolíticos na indústria e na atividade económica dessa empresa.
De acordo com o guia “Perguntas que todos os acionistas de uma sociedade cotada devem fazer”, publicadas pelo Gabinete de Apoio ao Investidor da Comissão Nacional do Mercado de Valores (CNMV) de Espanha, “investir em ações significa tornar-se coproprietário de uma empresa, na proporção da participação adquirida”. Por conseguinte, continua o documento, “o rendimento do investimento estará ligado à evolução da cotação e à distribuição dos lucros da empresa”, uma vez que, contrariamente às obrigações, a rentabilidade de uma ação não é fixada antecipadamente.
De acordo com o portal de dados Statista, a capitalização do mercado bolsista mundial (ou seja, o valor de todas as empresas cotadas a nível mundial) deverá atingir 128,07 biliões de dólares em 2025. Os EUA são o maior mercado bolsista, com um valor estimado de 55 biliões de dólares em 2025. Além disso, estima-se que o volume de mercado (ou seja, o número agregado de operações de compra e venda de ações) ultrapasse os 50 biliões de dólares em 2025.
Em Portugal, o índice bolsista mais representativo é o PSI 20
O índice bolsista mais representativo em Portugal é o PSI 20, que foi fundado em 1992 com um preço inicial de 1.000 pontos. Atualmente, acompanha o desempenho das 20 maiores empresas da economia portuguesa, como a GALP, a Jerónimo Martins e os Correios de Portugal.
A Bolsa de Valores de Amesterdão é considerada a bolsa de valores mais antiga do mundo, estando em funcionamento desde 1602. A primeira empresa a ser financiada na bolsa, no sentido moderno do termo, foi a Companhia das Índias Orientais, também considerada a primeira multinacional do mundo e a primeira empresa a publicar os seus resultados. A Companhia das Índias Orientais foi o resultado da fusão, pelos Estados Gerais dos Países Baixos, de várias empresas pré-existentes numa sociedade anónima, com o monopólio de conduzir negócios na Ásia durante 21 anos, entre outros poderes. A ideia subjacente a esta operação era que qualquer habitante do país pudesse comprar ações da sociedade e beneficiar das receitas das suas operações comerciais. Assim, mais de quatrocentos anos depois, os holandeses lançaram as bases do sistema que conhecemos como capitalismo e que ainda hoje se reflete nas bolsas de valores, através da subida e descida das ações.