Obrigações: o que são e como funcionam?

Mário Pires | Schroders

Head of Portugal
Neste cargo, Mário Pires é responsável por assegurar os interesses e as necessidades dos clientes intermediários e institucionais em Portugal, bem como pelo crescimento do negócio na região.

Junho de 2025 por Mario Pires

Se pensa em investir ou simplesmente está atento aos temas financeiros, certamente que já ouviu falar em obrigações. Sabe o que são?

Uma obrigação é, essencialmente, um empréstimo. Quem a compra está a emprestar dinheiro a uma entidade – normalmente, um governo ou uma empresa – por um período acordado. Em troca, recebe juros (chamados cupões) que são pagos periodicamente (uma vez ao ano, por exemplo) e, no final do prazo (maturidade), o valor emprestado é reembolsado.

Quem emite a obrigação (o emitente) assume um género de título de dívida, em que se compromete a pagar o valor que lhe foi emprestado e a fazê-lo com juros.

Além de serem empréstimos, as obrigações também são negociadas nos mercados financeiros, o que as torna mais complexas: é possível comprá-las e vendê-las antes da maturidade e os preços podem variar em função das expetativas dos investidores ou das condições económicas e monetárias.

Obrigações: preços e variações

As oscilações do preço no mercado podem relacionar-se com vários fatores, como, por exemplo:

  • Expetativas/Alterações nas taxas de juro;
  • Expetativas de inflação;
  • Condições económicas globais;
  • Nível de risco do emitente.

Imagine que a Maria subscreveu obrigações com juros de 3,5% ao ano, a 3 anos. Se passado um ano, o Banco Central Europeu descer a taxa de juros para 2,5% (que passa a ser a referência para novas obrigações e depósitos), as suas obrigações serão apetecíveis. Se decidir vendê-las, a Maria poderá subir o seu preço, ajustando a relação custo/rendimento esperado das suas obrigações. 

Neste sentido, o preço de uma obrigação no mercado corresponde ao valor que os investidores estiverem dispostos a pagar por ela num dado momento e não tem de coincidir com o seu valor nominal.

Risco e recompensa

Em comparação com outros ativos, como as ações, as obrigações são investimentos mais estáveis e seguros, uma vez que o preço tende a variar menos e os rendimentos a ser mais previsíveis. Em situações mais incertas, algumas obrigações são até consideradas um “porto de abrigo”.

No caso das obrigações governamentais (também chamadas obrigações do tesouro) o facto de serem garantidas pelo Estado reduz o risco de falha no pagamento (risco de incumprimento). Este risco é normalmente muito baixo, em particular nos chamados países desenvolvidos. 

No caso das obrigações empresariais, o risco relativo é também mais baixo do que nas ações. O pior cenário é o emitente abrir falência, mas, mesmo assim, os bens que existirem na altura serão usados para pagar primeiro aos obrigacionistas (credores) e só depois aos acionistas.

A segurança de uma obrigação depende, em boa parte, da situação económico-financeira do emitente (da sua reputação) e existem agências de notação financeira (como a Moody’s, S&P Global ou Fitch) que podem ajudar nesta avaliação.

Estas agências analisam diferentes indicadores (desde endividamento, lucros, exposição a riscos económicos nas empresas, a reservas cambiais e balanças comerciais nos governos) e o rating que atribuem aos emitentes ajuda a avaliar o seu risco de incumprimento. Estes ratings dividem-se, desde logo, em duas categorias indicadoras de risco: 

  • Grau de Investimento, para emitentes com elevada solvência (baixo risco); 
  • Grau especulativo, para emitentes com maior risco.

A um nível de risco mais elevado está normalmente associada a promessa de um maior retorno (juro mais elevado). Isto acontece, por exemplo, nas chamadas obrigações de alto rendimento – as chamadas high yield.

Um indicador que pode apoiar a avaliação desta relação risco/retorno é o spread, pois ele ajuda a perceber o risco adicional de comprar uma obrigação que não é vista como segura, em comparação com outra (com o mesmo prazo) que se considera não ter risco, como as obrigações do tesouro alemão ou norte-americano. 

Quanto maior o spread, maior a perceção de risco. Para compensar o risco adicional, os investidores vão exigir que a obrigação tenha um preço mais baixo, de modo a obterem maior rendimento efetivo (yield).

Embora possam ser mais complexas do que parecem à primeira vista, as obrigações são instrumentos essenciais para quem procura multiplicar os seus rendimentos, diversificando fontes de investimento e obtendo um retorno relativamente estável.Embora não estejam isentas de riscos, compreender o que são e como funcionam permite tomar decisões mais informadas e seguras. 

Este foi o primeiro passo para saber o que são obrigações, mas pode saber mais, aconselhando-se com quem sabe.